Ser professor(a) acadêmico(a) de direito no Brasil
Construindo uma identidade profissional em um grupo “desviante”
Palavras-chave:
Sociologia das profissões jurídicas, ensino jurídico, novos atores, acadêmicos, professores(as)Resumo
Esta é uma pesquisa qualitativa feita a partir de uma observação participante completa (Faulkner e Becker 2008, p. 11) que buscou analisar a formação da identidade profissional em um grupo atípico de professores(as) efetivos(as) de Direito no contexto do ensino jurídico brasileiro. A maior parte desses profissionais foi contratada para fundar um curso de graduação em Direito a partir de 2009 numa cidade do interior do Nordeste brasileiro. Foram realizadas 24 entrevistas do tipo narrativo (Bertaux e Kohli 1984, p. 224) que resultaram em 25,4 horas de gravação. Recorreu-se a ideia de análise “dramatúrgica” (Goffman 2014, p. 27). – Observação das representações do self – para a interpretação do material coletado na tentativa de acessar a “ordem simbólica das distinções significantes” (Bourdieu 2007, p. 166). Para isso, levou-se em consideração a maneira como os(as) entrevistados(as) viam a sua própria vida profissional e como descreviam os seus próprios gostos (de roupas, de hobbies, de música, etc.). Concluiu-se pela existência de uma identidade profissional autônoma nesse grupo “desviante” de professores(as) de Direito. Consideramos essa uma identidade “tímida” – pois fundada numa constante necessidade de justificação social – construída nas interações de conflito velado com os professores “práticos” e relacionada as ideias de vocação profissional e de valorização de um determinado estilo de vida. O quadro compreensivo formulado nos permite visualizar um processo recente de reconfiguração na divisão do trabalho no ensino jurídico brasileiro.
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